12/07/2011

Brian Hurwitz, 15 de Dezembro, 17h00, Centro de Saúde Sete Rios

What sort of a narrative is a clinical case report?

At the heart of medical practice lies a discursive formulation which problematises and fathoms something important about an individual. The clinical case report arises from consultations and offers an exemplary account of clinical thinking about a sick person's medical situation to a distant audience who will never see, hear from or meet that patient. Does the notion of a case precede that of case report or is apprehension and classification of cases so bound up with discussing and comparing word pictures that case and case report can be collapsed together as one and the same thing?

Clinical case reports are presentational and communicational discourses that place before an audience a linguistic portrait of sorts; such portraits require to be composed not only of descriptive, observational elements (including those offered by patients themselves) that include recognisable elements of the person consulting, but also need to contain taxonomic reference to what demands explanation in physiological and pathological terms. Hence, in composing a case report the physician-narrator's attention roves from focus upon a person to focus upon a body or psyche; from attention to a body to examination of body-part, bio-system and towards looking at physiological and pathological processes.

On one account, the clinical case report can be viewed as a type of narrative - a 'usable story' concerning an episode or occurrence in a person's life composed from a distinctive medical point of view subsisting in relation to other writing practices which focus on fathomability . On another account, the case report can be understood to access and represent - in part to construct - a virtual model of phenomena under scrutiny, a model variously consisting of body parts, pathological mechanisms and psychological processes, assembled clinically from testimony, observation, examination, scanning and measurement. Hence it is that the modern case report is recounted not only in words, but also in formulae, numbers, tracings and images and assumes a form as reminiscent of a scientific report as of a narrative.

Que tipo de narrativa é o relatório de caso clínico?
No cerne da prática médica encontra-se uma formulação discursiva que problematiza e perscruta algo de importante sobre um indivíduo. O relatório de caso clínico emerge das consultas e oferece a possibilidade, a um público distante que nunca o irá ver, de ouvir ou conhecer o doente, numa exposição exemplar do pensamento clínico sobre a respectiva situação médica. Será a noção do caso que precede a do relatório médico ou a apreensão e classificação de casos encontram-se tão ligadas à discussão e comparação de caracterizações que as ideias de caso e relatório de caso clínico podem fundir-se, como sendo uma e a mesma coisa?
Os relatórios médicos são discursos de apresentação e de comunicação que expõem uma espécie de retrato linguístico a uma audiência. Tais retratos não devem limitar-se a integrar elementos descritivos ou observacionais (incluindo os oferecidos pelos próprios doentes) que abranjam elementos reconhecíveis do doente em análise; devem também conter referências taxonómicas para o que exige esclarecimento quer a nível fisiológico quer patológico. Assim, ao conceber um relatório de caso clínico, o médico-narrador vai alternando o foco da sua atenção, entre uma pessoa, por um lado, e um corpo ou psique, por outro, e entre um corpo e o exame duma parte desse corpo, concentrando-se ora num sistema biológico, ora na análise dos processos fisiológicos e patológicos.

Por um lado, o relatório médico pode ser visto como um tipo de narrativa - uma "história utilizável" sobre um episódio ou uma ocorrência na vida de uma pessoa, construída a partir do ponto de vista médico, que entra em relação com outras práticas de escrita centradas na perscrutação. Por outro lado, pode ser entendido como uma avaliação e uma representação - e em parte uma construção - de um modelo virtual dos fenómenos sob escrutínio, constituído por partes do corpo, mecanismos patológicos e processos psicológicos, e montado a partir de testemunhos, observações, exames, scannings e medições. Deste modo, o caso clínico moderno não é relatado apenas por meio de palavras, mas também por meio de fórmulas, de números, de gráficos e de imagens, assumindo, por isso, uma forma reminiscente tanto do relatório científico como da narrativa.

0 comments:

Post a Comment